Música, literatura, poesia, idéias, arte, batera, percussão e porrada, se precisar!

"Como sabe que sou louca?", indagou Alice.
"Deve ser", disse o gato,
"ou não teria vindo aqui".
(Alice no País das Maravilhas)


sábado, 25 de maio de 2019

ENCARTE LINDAS ESTRADAS - FICHA TÉCNICA, LETRAS E DESCRIÇÃO DAS MÚSICAS - 2019



Ficha técnica: 

Gravado nos estúdios Caipira Urbano - SP. Mixado e Masteriza nos estúdios Oversonic –SJC 

Contatos: Yan Kaô: (12) 98169-2990/ Keli (15) 99117-5038

Arranjos e direção: Yan Kaô

Arte: Karika Dutra. Na Capa, meu filho Mikael e minha Filha Ilana. Na contracapa minha filha Ilana, anos mais tarde.


1)TANGO PARA MAVAMBO (Yan Kaô

Yan Kaô: batás 

A Construção: 

 Anabel Andres: teclados; Zé Márcio: colagens e efeitos; Amorim: viola;

Instrumental

Essa música surge da compreensão histórica das origens africanas do Tango e sua relação com uma divindade Guardiã chamada Maviletango, que é um Exu dos povos Angola/Congo. Uma refelxão sobre a arte musical das pessoas que não te reconhecido seu trabalho e que, mesmo assim, plasmam no ar sua música.

 2) BEIRA MAR (Yan Kaô/Zé Márcio

Yan Kaô: vocais, violões, chocalhos, agogô, bateria podre, atabaques ketu, congas, pandeiro, triângulo, surdão de concerto; 

A Construção: 

Braga: narração preto velho; baixoMaurício Verderame; berimbauDécio Sá Luciana Gama: vocais Zé Márcio: viola; Participação especial do Terno de Congada Chapéu de Fita – Olímpia – SP 

Uma música que surgiu das longas conversas noturnas com meu amigo e parceiro, o violeiro Zé Márcio. Muita psicodelia, vinho e cachaça da boa. Nessa música falamos sobre como um espírito de Preto Velho nos vê de lá prá cá e como nós o vemos de cá prá lá. de manhã, fomos tomar café na padaria e ao voltar, encontramos uma bateria jogada no lixo. Achamos que era um sinal e fizemos a música de prima.

BEIRA MAR

Minha mãe me chamou, foi na beira do mar

Foi na beira do mar...

Foi na beira do mar que Preto Velho caminhou

Prá ver a saudade do outro lado...

Foi na Beira do mar que Mamãe me chamou, Sinhô!

Foi na Beira do Mar...

De Quissamba na cacunda, vou voltar lá prá Arianda... 

3) A FÚRIA DA CHUVA (Yan Kaô/Tato Carvalho) Música incidental: Antônio Nóbrega 

Yan Kaô: Voz, Baterias Roland e acústica; Tambores, Ocean Drum, Pau-de-chuva, Pandeirola, Baixo. 

A Construção: 

Zé Márcio: colagens; André Briuza: guitarras; Tato Carvalho: teclados; Anabel Andres: teclados;

Esta é uma antiga composição que eu e o Tato fizemos quando olhávamos pela janela de meu quarto, através de um grande vidro. Lá fora uma tempestade cobria a cidade e imaginamos como a natureza, se quiser, pode aniquilar toda a civilização. Imaginamos a chuva cumprindo uma função mais interessante: a de lavar as pessoas por dentro. E os índios talvez sejam os mais indicados a não sofrerem com uma chuva desse tipo, pois estão sempre a favor da natureza. Essa composição se tornou uma das mais adoradas pelos fãs do Jardim Elétrico, meu primeiro grupo. Fala também de minha ancestralidade indígena e das profecias do Yvi Mara Hey, a Terra sem Males dos Guarani, um lugar lúdico e paradisíaco chamado o "Céu acima do céu", de onde todos vieram e para onde todos voltarão" AWÊ!!! 

A FÚRIA DA CHUVA

 Haverá um dia em que acordaremos na Terra Sem Mal...
Haverá um dia em que veremos o Novo Céu...
Haverá um dia em que seremos um só povo...

A fúria da chuva vem mostrar o medo da terra, do céu e do mar...
A fúria da chuva ao cair, lavando o suor do nosso país!

E as estrelas se unirão num Novo Sol...
E as lágrimas se encontrarão num Novo Mar...
E os corações se unirão num Novo Céu...

A chuva cobriu as pessoas na rua, esfriando as almas em desespero...
Liberando preconceitos, transmutando sonhos em pesadelos!!

Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri,
Ianomami, sou Tupi,
Guarani, sou Carajá...
Sou Pankaruru,Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-Ô, Tupinambá!

Muitos choraram! Outros gritaram!
Por terem sido flagrados despidos!
Meninos pelados de emoções!

E a chuva limpou o sangue do chão,
a chuva enferrujou os canhões...
pela última vez...


4) REPENSANDO O SAMBA (Yan Kaô) 

Yan Kaô: bateria, violões, agogôs, pandeiros, surdões, repiques, tamborins, cuíca, timbales, chocalhos, triângulo, baixo

A Construção: 

Tio Magrão: guitarras; Píu: teclados;

Instrumental

Um dia pensei no samba. Pensei e repensei. Mas não era samba. Era breque de bamba. Pensei mais um pouco. Saí pra rua com meu Timbal. E deu nisso aí. 

5) OS SONHOS SECRETOS DO HOMEM ETERNO (Yan Kaô) 

Yan Kaô: voz, violão, bateria, clavinhas, triângulo, bumbão de frevo, carrilhão, chocalhos, pau-de-chuva, reco, tambor de língua, claves. 

A Construção: 

Píu: teclados; Paulinho Pereira: baixo; Zé Márcio: violinha;

Essa música faz parte das Suítes Secretas, uma série de cancões progressivas que compus na adolescência, usando a poesia como expressão de sentimentos que talvez a alma tenha quando está em um estado mais puro. Um mundo confuso e obsessivo na primeira parte, a compreensão do nada. Um mundo livre, diáfano e irreal na segunda parte, a observação, sem julgamento, do tudo.

Os sonhos secretos do homem eterno

I

Fontes jorram força;

Estacas prendem asas;

Segundos passam em filas,

Seguidos pelos séculos,

Séculos,

Séculos...

Amém!

No vale, disperso, perco o rumo das rotas;

Meu louco revela portas irreais se abrindo,

Jogando a luz de um novo mundo em mim...

Vejo em arcas, marcas de tempo.

Nas paredes, pensamentos ecoando.

E você dançando uma valsa na sala

Ao som de pianos mortos.

II

Cortou o espírito

O som de sinos

Em tons sinuosos

Frequentes, quebrados

Entre brados de alegria e ódio...

Portfólios e esboços

De sede e fome...

Sentindo somente

A função de ser: esperar ter!

Verter vida e morte

E ver para crer

Nos deuses mortos,

Nos simbolos tortos

Que ainda soltos nas ruas

Arrebentam e queimam casas

E asas de fadas...

Querendo extrair

Do tudo, o nada

E do nada, o sentido:

De serem para sempre

O que sempre...

Sempre...

Sempre...

Quiseram ser...

6) SANGOMA (Yan Kaô) 

Yan Kaô: Vocais, chocalhos, agogô, Marimba, Didjeridoo, Flautas indígenas, Atabaques Ketu, Congas, pandeiro, triângulo, Bumbo de concerto; Taikos, Tímpanos, Gongos chineses, colagens.

Instrumental 

7) SENHE – ao vivo (Estevão Maya Maya e Padinha) 

Yan Kaô: Voz, Bateria

A Construção: 

Américo Freiria: guitarra e vocais; Maurício Verderame: baixo, vocais e timbalitos: Fernando Santos: didjeridoo e timbal; Anabel Andres: vocais, teclados e chocalhos; Zé Márcio: viola, vocais e surdões; 

Uma música tradicional, um cântico de escravos que era cantado pelo meu antigo grupo, o Kangoma. Em 1982, a gravadora Eldorado reunia em seus estúdios três das majestades negras da música popular brasileira: Tia Doca da Portela (pastora da Velha Guarda), Geraldo Filme (o primeiro-nome do samba paulista), e a Rainha Quelé, Clementina de Jesus. O projeto de Aluízio Falcão com direção musical de Marcus Vinícius e percussão de Papete viria a se tornar um dos mais antológicos álbuns da música popular: O canto dos escravos. Tratava-se da primeira gravação de 12 cantos de trabalho (ou vissungos) recolhidos na década de 1930 pelo folclorista mineiro Aires da Mata Machado Filho na região de Diamantina, no Norte de Minas Gerais. O grande maestro Estevão Maya Maya adaptou essa linda canção, que fala do escravo preso em sua cela, pedindo para a Lua (Senhê), que mande o espírito do sacerdote (Mbanda), para que com seu raio de luz entrasse pelas frestas do cativeiro e lhe desse a liberdade.

SENHÊ

Lua da terra distante
Que brilha que nem diamante
Vai acordar o Sol
Prá vir com sua alegria
Furar o buraquinho do dia...

Ai, Senhê...
Ai, Senhê...
Duimbanda, fura Buraquinho, Senhê
Korimbanda, fura buraquinho, Senhê

8) SUOR E SANGUE (Yan Kaô) 

Yan Kaô: Voz, Violões, Bateria, Congas, Bongô, surdo de concerto, Marimba, Chocalhos, Djembê, Claves. 

A Construção: 

Yara Santos e Tatá Oliveira: Vocais; Maurício Verderame: Baixo; Zé Márcio: Viola; Piu: Teclados;

Um dia sonhei que homens e mulheres saiam do mar e vinham falar comigo. Eram pessoas que haviam desembarcado de um navio luminoso. Se diziam meus ancestrais e ancestrais de todo um povo. Estavam estranhamente secos, mas havia suor e sangue em suas roupas. Cada um deles me abraçou e desapareceram na areia. Acordei com essa música na cabeça e imediatamente a gravei com o violão. Ao final da música está a gravação original. Música muito importante para mim, pois aqui cantam minhas filhas Yara Santos e Tatá Oliveira, duas grandes artistas.

SUOR E SANGUE

Nós temos razões

Para crer em nossas promessas...

Nós temos razões para sobreviver...

Sentimos as ondas baterem

Em nossas pernas manchadas

De suor e sangue...

Nós que viemos, deixamos para trás...

Nossos Deuses e nossas crenças, prometemos:

Voltar e abraçar nossa descendência em nossos sonhos... 


9) LINDAS ESTRADAS (Yan Kaô) 

Yan Kaô: voz, violão, teclados, baixo, bateria, ntama, chocalhos, derbak, agogô, congas; tambores Dundun, tambores batá,


Participação especial: Micheli Aguiar, vocais de apoio e vocal principal cântico de Ayan 

Lindas Estradas é uma canção que fala da liberdade e da vida. Fala de lembranças e de amigos que deixei quando visitei a África na minha juventude. Hoje eles só existem na memória, mas aqueles momentos são o que mais há de real em muito do que sinto. Ao final da música, um dos maravilhosos cânticos africanos de Ayan - a Divindade Yorubá das artes. 

LINDAS ESTRADAS

Não sou eu quem fala quando abro a boca

É alguma forma louca e enrugada,

Que diz ser sábio:

Calar a voz...

Que diz ser sábio:

Parar a foz...

Causar atrito no átrio santo

Destroçar tantos planos traçados

Pelos mitos esquecidos

Que cumprem pena na prisão dos quadros expostos

Nas salas da solidão...

Os mitos esquecidos

Que cumprem pena na prisão dos quadros expostos

Nas salas da solidão...

Transparente vai correndo

Atrás do vento norte

Sem respeitar fronteiras, porteiras, cancelas...

Cruzava, tênue,

Lindas estradas e matas.


10) HORIZONTE DE EVENTOS (Yan Kaô) 

Yan Kaô: vocais, bateria, timbales, cuíca, cowbels, apitos, queixada, pandeirola.

Horizonte de eventos foi composta para alguém que se foi. Todos que perderam alguém e que possam ter esperança de continuar. Essa música fecha o disco, fazendo a ponte para o próximo, "Descanso", com composições mais progressivas. 

A Construção: 

Micheli Aguiar: vocais de fundo; Edu Berigo: teclados; Paulo Sosa: baixo. André: Guitarra;


HORIZONTE DE EVENTOS

Seus olhos são a morada

Do relâmpago e da lágrima

Há uma estrada eterna

De infinitos sóis presos na escuridão


Desejo que você não tenha medo da vida

Desejo que você tenha as asas abertas

Os pássaros são todas as folhas

De um árvore

De frutos de fogo


Não há céu sem tempestade

Nem caminho sem aurora

A felicidade é uma estrela calma

Num horizonte de eventos.


11) Cântico de Ayan Agalu 

Yan Kaô: Tambores Bata, Dundum, Ntama. 

Micheli Aguiar: Voz